JESUS CRISTO (8-4? a.C. – 29-36? d.C.é a figura central do cristianismo. Para a maioria dos cristãos ele é Cristo, a encarnação de Deus e o "Filho de Deus", que teria sido enviado à Terra para salvar a humanidade. Acreditam que foi crucificado, morto e sepultado, desceu à mansão dos mortos e ressuscitou no terceiro dia (na Páscoa). Para os adeptos do islamismo, Jesus é conhecido no idioma árabe como Isa (عيسى, transl. Īsā), Ibn Maryam ("Jesus, filho de Maria"). Os muçulmanos tratam-no como um grande profeta e aguardam seu retorno antes do Juízo Final. Alguns segmentos do judaísmo o consideram um profeta,[7] outros um apóstata. A Bíblia é a principal fonte de informação sobre ele.
Embora tenha pregado apenas em regiões próximas de onde nasceu, a província romana da Judéia, sua influência difundiu-se enormemente ao longo dos séculos após a sua morte e ressureição. Ele pode ser considerado como uma das figuras centrais da cultura ocidental.
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- As cartas de Paulo, (posteriormente incluídas no Novo Testamento): Escritas aproximadamente entre 51 e 63 d.C.,[9] por Paulo de Tarso, representam os documentos cristãos mais antigos, mas não contém informações biográficas sobre Jesus que poderiam ser úteis para o estudo da figura histórica. No entanto, seu testemunho nos ajuda a entender como Jesus era reconhecido nas mais antigas comunidades cristãs;
- Os quatro evangelhos canônicos (Mateus, Marcos, Lucas e João): De acordo com alguns historiadores, estes textos chegaram a sua forma definitiva em meados do século I, tendo sido escritos em várias versões, que foi precedida de uma década de tradição oral, [nota 6] enquanto outros só chegariam em sua versão definitiva apenas na metade do segundo século.[10] Eles recontam em pormenores a vida pública de Jesus, ou seja, o período de no pregações nos últimos anos da sua vida. No entanto, há limitadas informações sobre sua vida privada. Representam os principais documentos em que convergem os trabalhos hermenêuticos dos historiadores. Na atualidade, diversas escolas com diferentes pontos de vista sobre a confiabilidade dos evangelhos e a historicidade de Jesus têm se desenvolvido;
- Os livros apócrifos: Geralmente, não são aceitos pelos estudiosos como testemunhas confiáveis da história [11][nota 7] (dada a sua composição tardia, os mais antigos datam de meados do século II, são mais úteis na reconstrução do ambiente religioso dos séculos seguintes [12] [nota 8]), eles fazem uso de fábulas legendárias em grande partes de suas narrativas.[13] Seus tipos e estilos são variados:
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- Os evangelhos apócrifos (como o Evangelho do Pseudo-Tomé e o Evangelho do Pseudo-Mateus) que contém milagres abundantes e gratuitos que muitas vezes chega a se parecer com a literatura fantástica, em nítido contraste com a sobriedade dos quatro evangelhos canônicos. Jesus aparece como uma criança prodígio, por vezes caprichoso e vingativo;
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- Os evangelhos gnósticos (incluindo o Evangelho de Felipe e Evangelho de Tomé), que contêm revelações privadas e interpretações inéditas sobre o "logos", e transforma Jesus como um ser divino aprisionado em carne e osso, que precisa deixar este mundo, a fim de alcançar salvação; [nota 9]
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- Os evangelhos apócrifos da paixão (por exemplo, o Evangelho de Pedro e o Evangelho de Nicodemos) que não acrescentam muito às descrições de morte de Jesus dos Evangelhos canônicos, mas com a característica distintiva de retirar a culpa de Pôncio Pilatos e coloca-las sobre os chefes e autoridades religiosas judias.
- Fontes históricas não-cristãs sobre Jesus: Em algumas obras de autores antigos não-cristãos estão algumas referências esparsas sobre Jesus ou seus seguidores. A mais antiga destas obras é o Testimonium Flavianum. Alguns historiadores [14] consideram tais referências como interpolações posteriores de copistas cristãos.
Etimologia
O nome Jesus vem do hebraico ישוע (Yeshua[nota 10]), que significa "Iavé" (YHVH) salva.[15] Foi também descrito por seus seguidores como Messias (do hebraico משיח (mashíach, que significa ungido e, por extensão, escolhido[16]), cuja tradução para o grego, Χριστός (Christós), é a origem da forma portuguesa Cristo.[17]
Nomes e títulos de Jesus
Nos livros de Novo Testamento, Jesus é mostrado não só com o seu próprio nome mas também com vários epítetos e títulos (A lista está em ordem decrescente de frequência):
- "Cristo". Literalmente significa "ungido", e foi posteriormente associado ao Messianismo. Na época de Jesus, o Cristo era esperado pelo povo judeu, especialmente para promover um resgate social e político. [nota 11][nota 12]
- "Senhor". Utilizado principalmente no livro de Atos dos Apóstolos e nas cartas. O título honorífico, em grego clássico é desprovido de valor religioso, mas é particularmente significativa a aplicação dele a Jesus, pela associação que a Septuaginta faz deste título com o termo hebraico יהוה (YHWH), que é um dos nomes de Deus.
- "Filho de Deus". No Antigo Testamento, a expressão indica uma relação estreita e indissociável entre Deus e um homem ou uma comunidade humana. No Novo Testamento, o título assume um novo significado, indicando uma filial real.[19]
- "Rei". O atributo da realeza foi relacionada com o Messias, que era considerado um descendente e herdeiro do Rei Davi. Jesus, apesar de se identificar com o Messias, rejeitou as prerrogativas políticas do título.[20]
Alguns dos seus outros títulos são: Rabi (ou Mestre) Profeta Sacerdote,[ Nazareno, Deus, Verbo, Filho de José e Emanuel.
Além disso, especialmente no Evangelho segundo João, são aplicadas a Jesus expressões alegóricas como: Cordeiro, Cordeiro de Deus, Luz do Mundo, pastor, bom pastor, pão da vida, pão vivente, pão de Deus, porta, Caminho e Verdade.
Biografia de Jesus pelo Novo Testamento
Grande parte do que é conhecido sobre a vida e os ensinamentos de Jesus é contado pelos Evangelhos canônicos: Evangelhos de Mateus, Marcos, Lucas e João, pertencentes ao Novo Testamento da Bíblia. Os Evangelhos Apócrifos apresentam também alguns relatos relacionados a Jesus.
Esses Evangelhos narram os fatos mais importantes da vida de Jesus. Os Atos dos Apóstolos contam um pouco do que sucedeu nos 30 anos seguintes. As Epístolas (ou cartas) de Paulo também citam fatos sobre Jesus. Notícias não-cristãs de Jesus e do tempo em que ele viveu encontram-se nos escritos de Josefo, [nota 13] que nasceu no ano 37 d.C.; nos de Plínio, o Moço, que escreveu por volta do ano 112; nos de Tácito, que escreveu por volta de 117; e nos de Suetônio, que escreveu por volta do ano 120.
Genealogia
Dos quatro evangelhos, apenas Mateus e Lucas dão relato da genealogia de Jesus.[32][33] Estes relatos são substancialmente diferentes.[34] Várias explicações têm sido sugeridas e tornou-se tradicional desde, pelo menos, 1490 pressupor que a genealogia dada por Lucas foi traçada através de Maria e que a Mateus o faz através de José.[35] Acadêmicos modernos geralmente vêem as genealogias como construções teológicas.[36] Mais especificamente, sugere-se que as genealogias foram criadas com o objetivo de justificar o nascimento de uma criança com linhagem real.
Mateus menciona sinteticamente um total de 46 antepassados que teriam vivido até uns dois mil anos antes de Jesus, começando por Abraão. Em seu relato, o apóstolo cita não somente heróis da fé, mas também menciona os nomes das mulheres estrangeiras que fizeram parte da genealogia tanto de Jesus quanto de Davi, que no caso foram Rute, Raabe e Tamar. Também não omite os nomes dos perversos Manassés e Abias, ou de pessoas que não alcançaram destaque nas Escrituras judaicas. Divide então a genealogia de Jesus em três grupos de catorze gerações: de Abraão até Davi, de Davi até o cativeiro babilônico, ocorrido em 586 a.C., e do exílio judaico até Jesus.
Lucas, por sua vez, aborda a genealogia de Jesus, retrocedendo continuamente até Adão, talvez com o objetivo de mostrar o lado humano de Jesus. E, superando Mateus, Lucas fornece um número maior de antepassados de Jesus.[37]
Nascimento
Não há evidência histórica contemporânea demonstrando a data de Nascimento de Jesus. O calendário gregoriano é baseado em uma tentativa medieval de contar os anos desde o nascimento de Jesus, que foi estimado por Dionysius Exiguus entre 2 AC/ACE and 1 DC/DEC.[39] O evangelho de Mateus afirma que o nascimento aconteceu durante o reinado de Herodes, que morreu em 4 BCE,[40] sugerindo que Jesus pudesse ter até dois anos de idade quando ele teria ordenado o Massacre dos inocentes. O autor do evangelho de Lucas similarmente coloca o nascimento de Jesus como tendo ocorrido durante o reinado de Herodes, mas afirma que o nascimento aconteceu durante o Censo de Quirino das província romanas da Síria e Judéia, o que geralmente se crê ter acontecido em 6 DCE, ou seja, uma década depois da morte de Herodes.[41] A maioria dos acadêmicos dão preferênca à faixa entre 6 e 4 ACE.[42]
De acordo com o relato do evangelho de Lucas, na época do rei Herodes o sacerdote Zacarias, esposo de Isabel — ambos já de idade avançada —, recebeu a promessa do nascimento de João Baptista através do anjo Gabriel.[43]
No sexto mês da gestação de Isabel, o mesmo anjo Gabriel aparece a Maria na cidade de Nazaré, a qual era virgem e noiva de José, e anuncia que ela viria a conceber do Espírito Santo e que daria ao seu filho o nome de Jesus. Mateus traz a informação de que José, ao saber que sua noiva estava grávida, não teria compreendido inicialmente que Maria recebera a missão de conceber o Messias e se afastou dela. Mas em sonho, um anjo lhe revelou a vontade de Deus, e ele aceitando-a, recebeu Maria como esposa.[43]
Segundo Mateus, o imperador Otávio Augusto teria promovido um recenseamento de todos os habitantes do Império, tendo estes que se alistar em suas respectivas cidades. José, por ser da cidade de Belém, teria levado Maria até esta cidade. Chegando ao local de destino, por não terem encontrado hospedagem, Jesus nasce em uma manjedoura. Segundo Lucas, os pastores da região, avisados por um anjo, vieram até o local do nascimento de Jesus.[43]
Completados os oito dias que determinava a tradição judaica, Jesus foi apresentado no templo por sua família para ser circuncidado, quando foi abençoado por Simeão e Ana.[43]
Segundo o relato do evangelista Mateus, Jesus teria recebido a visita dos magos do oriente, os quais, segundo a tradição natalina, seriam três reis da Pérsia. Os magos teriam chegado a Jerusalém seguindo a trajetória de uma estrela que anunciaria a vinda do Messias ao mundo. E, ao encontrarem Jesus numa casa com Maria, adoraram-lhe e ofertaram ouro, incenso e mirra representando, respectivamente, a sua realeza, a sua divindade e a sua imortalidade. Por causa desta visita Herodes teria se decidido a matar aquele que lhe iria tomar o trono. Tal notícia teria chegado a José, que então foge com Maria e o menino para o Egito. Jesus e sua família teriam permanecido no Egito até a morte de Herodes, quando então José, após ser avisado por um anjo em seus sonhos, retorna para a cidade de Nazaré. [44]
Infância e juventude
Pouco sabem os historiadores sobre a infância de Jesus. Conforme o Evangelho de Mateus, Jesus teria passado o começo de sua infância no Egito até a morte do rei Herodes, que queria matá-lo.
Em virtude da lacuna deixada pelos Evangelhos Canônicos, o pouco que se sabe da infância de Jesus provém de relatos apócrifos, chamados de "Evangelhos da Infância", e que contam sobre sua vida dos cinco aos doze anos, como o feito por Tomé, filósofo israelita do século I, conhecido como "A Infância do Senhor Jesus", também denominado como o Evangelho do Pseudo-Tomé, um antigo manuscrito escrito em Siríaco, ou a História de José, o carpinteiro. Porém é conveniente salientar que tais fontes têm sua autenticidade contestada, e em alguns casos é notória a influência do pensamento de grupos religiosos diversos (do século II ao IV) das raízes tradicionais cristãs.
Em umas das poucas referências canônicas à juventude de Jesus, Lucas diz que, aos 12 anos, ele foi com os pais de Nazaré a Jerusalém, para a festa de Pessach, a Páscoa judaica, e lá surpreendeu os doutores do Templo pela facilidade com que aprendia os ensinos, e por suas perguntas intrigantes.[45]
Batismo e tentação
Todos os três Evangelhos sinóticos descrevem o batismo de Jesus por João Batista,[46] e este evento é descrito pelos eruditos bíblicos como o início do ministério público de Jesus. De acordo com as fontes canônicas, Jesus foi para o rio Jordão onde João Batista estava pregando e batizando as pessoas.
Mateus descreve que João estava hesitante em atender o pedido de Jesus para ser batizado, alegando que ele é quem deveria ser batizado por Jesus. Mas Jesus insistiu, "Consente agora; porque assim nos convém cumprir toda a justiça." (Mateus 3:15). Depois que Jesus foi batizado e saiu da água, Marcos afirma que Jesus "viu os céus se abrirem, e o Espírito, qual pomba, a descer sobre ele. e ouviu-se dos céus esta voz: Tu és meu Filho amado; em ti me comprazo." (Marcos 1:10–11). O Evangelho de João não descreve o batismo e nem se refere a João como "o Batista" mas ele atesta que Jesus é aquele sobre quem João tinha pregado — o Filho de Deus.
Após o seu batismo, Jesus foi levado para o deserto por Deus, onde jejuou durante quarenta dias e quarenta noites.[47] Durante esse tempo, o diabo lhe apareceu e o tentou por três vezes. Em cada uma das vezes, Jesus rejeitou as tentações respondendo com uma citação das escrituras.[48] Em seguida o diabo se foi e os anjos vieram para cuidar de Jesus.[49]
Ministério
Os evangelhos narram que Jesus veio ao mundo para anunciar a salvação e as Bem-aventuranças à humanidade.[50][51] Durante o seu ministério, é dito que Jesus fez vários milagres, como andar sobre a água, transformar água em vinho, várias curas, exorcismos e ressuscitação de mortos (como Lázaro).[52]
O evangelho de João descreve três Pessachs durante o ministério de Jesus, e isso implica dizer que Jesus pregou por pelo menos dois anos e um mês,[53] apesar de algumas interpretações dos evangelhos sinóticos sugerirem um período de apenas um ano.[54][55] Jesus desenvolveu seu ministério principalmente na Galiléia, tendo feito de Cafarnaum uma de suas bases evangelísticas e se deslocando várias vezes a Tiberíades pelo Mar da Galiléia. Esteve também em cidades como Samaria, na Judéia e sobretudo em Jerusalém logo antes de sua crucificação. Esteve em outros lugares de Israel, chegando a passar brevemente por Tiro e por Sidom, cidades da Fenícia.[