A devoção ao Divino Pai Eterno, particularmente, no Brasil, já conta mais de 160 anos e busca sua origem nas proximidades do Córrego do Barro Preto (Goiás) onde um casal de trabalhadores rurais (Constantino Xavier e Ana Rosa), enquanto trabalhavam na roça, encontraram um medalhão confeccionado em barro, cuja estampa trazia a imagem da Santíssima Trindade coroando Nossa Senhora. Levaram então o medalhão para casa e a partir desse dia, observou-se uma série de milagres no Estado de Goiás, região centro-oeste do Brasil. O número de fiéis cresceu vertiginosamente e a casa de Constantino já não comportava o fluxo de devotos. Por isso, em 1843, foi erigida uma capela, que logo iria também tornar-se pequena. Constantino, então, encomendou uma réplica da figura estampada no medalhão, confeccionada em madeira pelo artista plástico Veiga Valle e que foi posta junto à nova capela que construiu com auxílio da comunidade. Difundiu-se por toda a região grande comemoração festiva, que culmina com a Novena no dia da grande festa, ou seja, sempre no primeiro domingo do mês de julho.
A representação artística das três pessoas divinas, Pai, Filho e Espírito Santo se caracterizam pela imagem do Pai, mais velho, do Filho, mais jovem, insinuando Sua presença no tempo e do Espírito Santo, em forma de pomba como narra o Evangelho por ocasião do Batismo de Jesus. É a síntese da Onipotência de Deus nas três pessoas da Santíssima Trindade coroando Sua Mãe, intercede e advoga por todos nós, pobres pecadores. |
Situada na cidade de Trindade - Goiás, a Basílica é o único Santuário no mundo dedicado ao Divino Pai Eterno, sob a responsabilidade dos missionários da Congregação do Santíssimo Redentor, ou padres Missionários Redentoristas. Eles estabeleceram-se na região em 1894 e fixaram residência na cidade de Campininhas das Flores e no já ano seguinte, os Redentoristas entraram oficialmente em Barro Preto, onde iniciaram um amplo processo de evangelização, organização eclesial, paroquial e acompanhamento espiritual das populações regionais e circunvizinhas. Os Redentoristas tiveram papel preponderante na organização e expansão da devoção ao Divino Pai Eterno. Hoje administram a paróquia composta por quarenta comunidades e cuidam do Santuário Velho
O Papa João Paulo II, quando esteve no Brasil, enalteceu a devoção ao Divino Pai Eterno, em sua homilia proferida na esplanada do Estádio "Serra Dourada" de Goiânia, no dia 15 de outubro de 1991:
"Com particular satisfação, dirijo-me a esta representação do Divino Pai Eterno, na sua atitude de coroar a Beatíssima Virgem Maria. Sei que o povo dessa Arquidiocese e de todo o Goiás, tem muita devoção ao Divino Pai Eterno e, esta representação, exprime muito bem o sentido misterioso da Redenção realizada pelo Deus Homem que, para nos salvar, veio ao mundo, por vontade do Pai, encarnando-se no seio puríssimo da Virgem Maria.
"Nisto, caríssimos filhos do Brasil, se resume toda a beleza das insondáveis riquezas do amor de Deus pelos homens, que quis reunir na Igreja Católica todas as ovelhas para que, ao fim dos tempos, constituam um só rebanho com um único pastor!
"Por um desígnio insondável da Providência, a Igreja é este mistério, manifestado pela livre disposição da sabedoria e da bondade do Pai de se comunicar. Tal comunicação se realiza pela missão do Filho e o envio do Espírito Santo, para salvação dos homens. Na ação divina tem origem a criação, como história dos homens, pois ela tem seu “princípio”, no sentido mais pleno da palavra (Jo 1, 1), em Jesus Cristo, o Verbo feito carne. A Igreja é esse mistério que tem sua origem da Trindade Santíssima, à qual está intimamente unida e sem a qual não poderia subsistir. É este o fundamento da unidade eclesial em si mesma, e da unidade com seu Povo. (...)
"Quero, por fim, caríssimos Irmãos e Irmãs, agradecer o acolhimento do Arcebispo de Goiânia, Dom Antônio Ribeiro de Oliveira e de todos os bispos deste Estado. Que a Virgem Maria, a quem os goianos gostam de venerar como Nossa Senhora da Abadia, volte seu olhar para este povo querido, para seus pastores, para seus lares e seus trabalhos, dando a cada um sentir sempre os efeitos de sua proteção materna."
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No dia de 10 março de 1999, o Papa João Paulo II dedicou a reflexão da audiência geral das quartas-feiras, na Praça de São Pedro, à relação de Jesus com o Pai, como revelação do mistério da Santíssima Trindade, como transcrevemos a seguir:
AUDIÊNCIA
A relação de Jesus com o Pai, revelação do mistério trinitário
Quarta-feira 10 de Março de 1999
Queridos irmãos e irmãs,
1. Como vimos na catequese precedente, com as Suas palavras e obras Jesus entretém com o «Seu» Pai uma relação muito especial. O evangelho de João sublinha que tudo o que Ele comunica aos homens é fruto desta união íntima e singular: «Eu e o Pai somos um» (Jo 10, 30). E ainda: «Tudo quanto o Pai tem é Meu» (Jo 16, 15). Existe uma reciprocidade entre o Pai e o Filho, naquilo que conhecem de Si mesmos (cf. Jo 10, 15), naquilo que são (cf. Jo 14, 10), naquilo que fazem (cf. Jo 5, 19; 10, 38) e naquilo que possuem: «Tudo o que é Meu é Teu, e tudo o que é Teu é Meu» (Jo 17, 10). Trata-se dum intercâmbio recíproco que encontra a sua expressão plena na glória, que Jesus obtém do Pai no mistério supremo da morte e da ressurreição, depois de a ter Ele mesmo conseguido do Pai durante a vida terrena: «Pai, chegou a hora: Glorifica o Teu Filho para que também o Teu Filho Te glorifique... Glorifiquei-Te na Terra... Agora glorifica-Me Tu, ó Pai, junto de Ti» (Jo 17, 1.4 s.).
Esta união essencial com o Pai não só acompanha a atividade de Jesus, mas qualifica o Seu ser inteiro. «A Encarnação do Filho de Deus revela que Deus é o Pai eterno, e que o Filho é consubstancial ao Pai, quer dizer que n'Ele e com Ele é o mesmo e único Deus» (Catecismo da Igreja Católica [CIC], n. 262). O evangelista João põe em evidência que precisamente a esta pretensão divina reagem os chefes religiosos do povo, não tolerando que Ele chame a Deus seu Pai e Se faça portanto igual a Deus (cf. Jo 5, 18; cf. 10, 33; 19, 7).
2. Em virtude desta consonância no ser e no agir, Jesus revela o Pai tanto com as palavras como com as obras: «Ninguém jamais viu a Deus; o Filho único que está no seio do Pai é que O deu a conhecer» (Jo 1, 18). A «predileção» de que Cristo goza é proclamada no seu batismo, segundo a narração dos Evangelhos sinópticos (cf. Mc 1, 11; Mt 3, 17; Lc 3, 22). Ela é reconduzida pelo evangelista João à sua raiz trinitária, ou seja, à misteriosa existência do Verbo «junto» do Pai (cf. Jo 1, 1), que O gerou na eternidade.
Partindo do Filho, a reflexão do Novo Testamento, e depois a teologia nela arraigada, aprofundaram o mistério da «paternidade» de Deus. O Pai é Aquele que na vida trinitária constitui o princípio absoluto, Aquele que não tem origem e do Qual provém a vida divina. A unidade das três Pessoas é partilha da única essência divina, mas no dinamismo de relações recíprocas que, no Pai, têm a fonte e o fundamento. «É o Pai que gera, o Filho que é gerado, o Espírito Santo que procede» (IV Concílio de Latrão: DS, 804).
3. Deste mistério que supera infinitamente a nossa inteligência, o apóstolo João oferece-nos uma chave, quando na primeira carta proclama: «Deus é amor» (4, 8). Este vértice da revelação indica que Deus é ágape, isto é, dom gratuito e total de Si, cujo testemunho foi-nos dado por Cristo com a Sua morte na cruz. No sacrifício de Cristo, revela-se o infinito amor do Pai pelo mundo (cf. Jo 3, 16; Rm 5, 8). A capacidade de amar de maneira infinita, doando-Se sem reservas e sem medida, é própria de Deus. Em virtude deste seu ser Amor Ele, ainda antes da livre criação do mundo, é Pai na própria vida divina: Pai amante que gera o Filho amado e, com Ele, dá origem ao Espírito Santo, a Pessoa-Amor, vínculo recíproco de comunhão.
Sobre esta base a fé cristã compreende a igualdade das três Pessoas divinas: o Filho e o Espírito são iguais ao Pai não como princípios autônomos, como se fossem três deuses, mas enquanto recebem do Pai toda a vida divina, distinguindo-Se d'Ele e reciprocamente só na diversidade das relações (cf. CIC, n. 254).
Mistério grande, mistério de amor, mistério inefável, diante do qual a palavra deve dar lugar ao silêncio da admiração e da adoração, porque a participação da vida trinitária nos foi oferecida pela graça, através da encarnação redentora do Verbo e do dom do Espírito Santo: «Se alguém Me ama, guardará a Minha Palavra: Meu Pai amá-lo-á e viremos a ele e faremos nele morada» (Jo 14, 23).
4. A reciprocidade entre o Pai e o Filho torna-se assim para nós crentes princípio de vida nova, que nos consente participar da própria plenitude da vida divina: «Todo aquele que confessar que Jesus Cristo é o Filho de Deus, Deus está nele e ele em Deus» (1 Jo 4, 15). O dinamismo da vida trinitária é vivido pelas criaturas, de tal modo que tudo converge para o Pai, mediante Jesus Cristo, no Espírito Santo. É quanto ressalta o Catecismo da Igreja Católica: «Toda a vida cristã é comunhão com cada uma das pessoas divinas, sem de modo algum as separar. Todo aquele que dá glória ao Pai, fá-lo pelo Filho no Espírito Santo» (n. 259).
O Filho tornou-Se «Primogênito de muitos irmãos» (Rm 8, 29); através da Sua morte o Pai nos regenerou (cf. 1 Pd 1, 3; cf. também Rm 8, 32; Ef 1, 3), de maneira que no Espírito Santo possa- mos invocá-l'O com o mesmo termo usado por Jesus: «Abbá» (Rm 8, 15; Gl 4, 6). São Paulo ilustra mais ainda este mistério, dizendo que «o Pai nos fez dignos de participar da sorte dos santos na luz. Ele livrou-nos do poder das trevas e transferiu-nos para o Reino de Seu Filho muito amado» (Cl 1, 12-13). E o Apocalipse assim descreve a sorte escatológica daquele que luta e, com Cristo, vence o poder do mal: «Ao que vencer, conceder-lhe-ei que se sente Comigo no Meu trono, assim como Eu venci e Me sentei com Meu Pai no Seu trono» (3, 21). Esta promessa de Cristo abre-nos uma perspectiva maravilhosa de participação na sua intimidade celeste com o Pai.
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